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Brasil, uma Profecia e O Monstro de Mariana
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Eu, de vez em quando — ainda que seja puxado para isso o todo tempo —, escrevo (ou tento) ficção. São contos que publiquei na Amazon e estão disponíveis gratuitamente para quem assina o Kindle Unlimited. Também estarão de graça entre o dias 30 de novembro e 02 de dezembro, 2021. Fora estes dias, custam R$ 1,99 cada, o que é o menor preço que consigo disponibilizar na loja Kindle. Resolvi falar um pouco deste meu outro lado. Somos múltiplos. Sempre destado isso e esqueço de também transparencer isso.
Brasil, uma profecia
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Fiz parte por anos de um clube de leitura de ficção científica, onde nos reuniamos mensalmente e tinhamos ótimas discussões na livraria Blooks no Shopping Frei Caneca em São Paulo. Formamos um forte vínculo de amizade com muitos e iríamos fazer um "fanzine" ou algo do gênero. Iria se chamar 208 em referência ao 1984 do Orwell. A ideia era escrever no "primeiro número", que nunca concluímos e por que estava próximo ao Halloween: Qual seu maior medo?. Eu publiquei este conto em Outubro de 2018, tendo escrito em Agosto. Meu maior medo o momento era o país ser governado por algum idiota incompetente que levaria o país ao caos e à fragamentação. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
Como um grande fã de Dostoiévsky, que em determinado momento fora condenado à morte mas salvo no último instante por um perdão, quis trabalhar algo na mesma linha explorando o desdobramento temporal.
Condenado à morte!
Há cinco semas estou morando com esse pensamento, sempre sozinho com ele, mesmo entre outros, sempre gélido com sua presença, sempre encurvado com o seu peso. O pior, o pior de tudo é que pode acontecer a qualquer momento. Os bastardos nem mesmo tiveram uma decência de marcar uma data.
Vivo ansioso. Cada som ou passo que puço na prisão, minha mente imediatamente atribui aos meus algozes; sou levado a imaginado a caminhada ao cadafalso e sinto a minha vida se esvaindo. Medo! Tenho medo, muito medo. unca a morte havia sido uma verdade para mim, apenas uma conjectura, uma hipótese. E eu desprezava qualquer perspectiva religiosa ou mágica. Eu tirava sarro dos que acreditavam no contrário. Mas agora, agora eu temo. Temo tanto…O que pode haver do lado de lá?! o pensamento de que nada existe é tão familiar e em mim fiz sua morada, mas e se… e se eu estiver errado? E se houver algo?
— Está tremendo de frio, rapaz? — me pergunta o pastor Samuel, curvando-se e me observando na cama.
— Estou — respondi, puxando uma coberta gasta, com cheiro de moto, que estava próxima a mim, e assumindo a posição fetal. Infelizmente, não era apenas frio.
E se houver algo, e se houver algo e eu for para o Inferno? Quem estaria certo? Aonde eu iria na cartografia do Dante? Qual seria o meu pior pecado? Qual era a minha responsabilidade em tudo o que estava acontecendo? Eu passei tanto tempo dando desculpas, dizendo que era apenas a minha opinião, que importava a mim e a mais ninguém. Era o meu direito alienável. Vivemos em tempos tão conectado e ainda assim achamos que somos uma ilha, como se cada escolha nossa não afetasse toda a rede de pessoas ao nosso redor e cada pessoas não fosse afetada por dezenas de outras escolhas.
Ninguém esperava que tudo ficaria tão ruim tão rápidp, nem em nossos piores pesadelos. Nem que o Brasil seria literalmente apagado do mapa. […]
O Monstro de Mariana
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Embora tenha publicado em 2020, sua concepção é anterior ao Brasil, uma profecia. Em novembro de 2017 eu participei de uma espécie de "retiro para aspirantes a escritores" com foco em histórias de terror e horror chamado "Fim de Semana do Terror". Cada um de nós ficou com a tarefa de criar um conto para uma antologia. Estava assistindo os filmes de criaturas clássicos como o "Monstro da Lagoa", "Frankenstein" e outros. Também queria explorar a camada às vezes ignorada mas quase sempre presente de que histórias de horror e terror refletem as ansiedades e problemas sociais.
Eu havia visitado Mariana anos antes e estava impactado com toda a complexidade da situação e sendo a questão climática, esse grande hiperobjeto nos engolindo a todos e a mineração sendo parte dessa exploração terrível da natureza, fiquei motivado a juntar tudo e da lama que praticamente envenenou o Rio Doce, surgir um Monstro, altamente influenciado por Jeff Vandermeer, H.P. Lovecraft, O Monstro do Pântano do Alan Moore,Elena Ferrante (desmarginalização como um dos conceitos) e O Homem de Areia do E.T.A. Hoffmann.
Preparai a matança para os seus filhos por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem, e nem possuam a terra, e encham a face do mundo de cidades.
Sei bem que os deixei apreensivos ficando tanto tempo sem falar. Mas as ideias corriam de mim, em todas as direções, as palavras pareciam ser meras peças associadas arbitrariamente a sons guturais que nada significavam. Não conseguiria me expressar, nem que tentasse. Não era bloqueio, não era falta -- pelo contrário: era excesso, era abundância; eu transbordava. Tentavam todos sempre a tirar algo de mim e me enchiam de perguntas, as quais eu nem mesmo tomava plena consciência, quando muito lhes dava um olhar cansado, desinteressado, e os observava em silêncio, mexendo suas bocas com aqueles sons e não sabia se devia sentir pena ou desespero. Meu diagnóstico era stress pós traumático. Não podiam estar mais errados.
Enquanto todos me perguntavam maravilhados como havia sobrevivido, apenas lamentava silenciosamente ter sido poupada, estar ali, novamente em meio às pessoas. Acordei assustada, cada toque me repelia, todo o corpo se retraia e suas vozes eram como agulhas em meus nervos. Era apenas mais um dos enfermeiros checando o soro e o fio conectado a mim, monitorando meus sinais vitais. Preciso colocar as ideias em um ponto, algo que faça algum sentido para mim mesma, ainda que saiba que o pensamento humano jamais dará conta de compreender isso. Estou condenada a esta vida limitada, a viver como uma pessoa entre pessoas. Talvez estejam certas. Sobre o que não se pode falar, deve calar-se.
E foi assim que permaneci por quase duas semanas. “Escute, preciso que você colabore” – eu conseguia sentir o desamparo em sua voz, enquanto ele colocava sua cadeira próxima de minha cama e me olhava com aquele olhar duro e ao mesmo tempo complacente. Eu sentia aquele olhar dentro de mim. Devia ser alguma espécie de investigador, algum policial tentando, como todos os outros, entender o que não se pode entender. Isso me deixava possessa. Essa pretensão, com uma declaração implícita de que podemos entender, capturar algo tão grandioso – o que buscamos? Controle? Repentinamente a barreira mental que eu havia erguido se rompeu e falei, e falei. Falei mais do que deveria e via em seus olhos como ele se deliciava com tudo o que eu cuspia. Temia que estivesse me achando louca. Vez ou outra checava se o seu celular continuava gravando e só emitia sons indicando que eu continuasse. Quando parei senti um tipo diferente de medo, um medo urgente – […]
Falta tempo para escrever. Em 2003 eu conclui minha primeira novela, chamada “EQM — Experiências de Quase Morte”, que teve poucas cópias físicas e a anos venho desenvolvendo um romance. Quem sabe um dia eu conclua 😅